Lição 13: A Assembleia de Jerusalém – 3º Trimestre 2025

Você sabia que a Igreja Primitiva quase se dividiu por causa de uma grande controvérsia? Em Jerusalém, líderes se reuniram para decidir se os gentios precisavam cumprir a Lei para serem salvos. A decisão mudou a história do cristianismo e ainda fala conosco hoje. Quer descobrir como a graça venceu o legalismo e como o Espírito Santo guiou a Igreja em meio ao conflito? Então, leia até o final.
Subsídio referente a Lição 13 – 3º Trimestre 2025
INTRODUÇÃO
A história da Igreja não foi feita apenas de milagres e crescimento, mas também de conflitos que ameaçaram sua unidade. Em Atos 15, encontramos uma das crises mais sérias: um grupo insistia que os gentios só poderiam ser salvos se guardassem a Lei de Moisés, especialmente a circuncisão. Mas essa exigência colocava em risco a essência do Evangelho: a salvação pela graça.
Para resolver a questão, os apóstolos e presbíteros se reuniram em Jerusalém. E não foi apenas uma assembleia de homens, mas uma busca sincera pela direção de Deus. E aqui aprendemos algo precioso: quando a Igreja se volta ao Espírito Santo, os conflitos não destroem, mas fortalecem.
Essa decisão em Jerusalém não foi importante só para os primeiros cristãos. Ela continua ecoando até hoje, porque nos lembra que a verdadeira fé não é baseada em tradições ou imposições humanas, mas no sacrifício perfeito de Cristo.
E, da mesma forma, quando enfrentamos divisões, críticas ou conflitos em nossas comunidades, precisamos lembrar: não são nossas opiniões que garantem a unidade, mas a voz do Espírito Santo que conduz a Igreja.
É Ele quem preserva a graça e nos mantém juntos no mesmo propósito.
I – A QUESTÃO DOUTRINÁRIA
Tudo começa com uma história de sucesso. Paulo e Barnabé não estavam apenas listando lugares que visitaram. Eles eram testemunhas oculares de um milagre: o Espírito Santo agindo com poder entre os não-judeus, da mesma forma que agiu em Jerusalém no dia de Pentecostes. Eles viram curas, vidas transformadas, uma alegria genuína. Para eles, a prova era irrefutável: se Deus estava entregando o Seu Espírito a essas pessoas, quem eram eles para impor um fardo a mais? A salvação era claramente um presente.
Mas, para os homens que vieram da Judeia, a questão era outra. Eles não eram necessariamente vilões; eles eram homens de profunda convicção. Por séculos, a Lei de Moisés e a circuncisão foram o sinal da aliança, a “cerca” que protegia o povo de Deus. Na mente deles, abandonar isso era como demolir o alicerce da fé. Para eles, a fé em Jesus era o novo e maravilhoso andar de um edifício, mas esse edifício precisava ser construído sobre o fundamento da Lei.
A mensagem deles era clara e cortante: a graça era boa, mas não era o bastante. A fé precisava de um complemento. A cruz precisava da circuncisão. E com isso, eles não estavam apenas sugerindo uma prática, estavam redefinindo a própria natureza da salvação. O debate que se seguiu em Antioquia não foi uma simples discordância. Foi um choque de dois mundos, uma colisão frontal entre a liberdade radical do Evangelho e o peso da tradição.
Agora, coloque-se no lugar de um desses novos convertidos. Você acabou de entregar sua vida a Cristo. Sentiu o perdão, a paz, a libertação de uma vida de idolatria. Sua vida tem um novo sentido. E, de repente, alguém chega e diz que essa sua experiência, tão real e poderosa, não é “oficial” até que você passe por um ritual físico doloroso e adote toda uma cultura que não é a sua. Isso cria cristãos de primeira e segunda classe. Gera dúvida onde antes havia certeza.
É uma forma sutil de dizer: “O que Cristo fez na cruz foi grandioso, mas não foi completo. Você precisa adicionar a sua parte.”
O que estava em jogo não era apenas uma regra, mas o coração do Evangelho: a liberdade que Cristo conquistou para todos.
Esse conflito nos mostra que o maior desafio da Igreja não vem apenas de fora, mas de dentro: quando tradições humanas tentam ocupar o lugar da graça divina. Quantas vezes, ainda hoje, estabelecemos barreiras invisíveis para quem chega à igreja? Exigimos aparência, costumes ou até comportamentos que não são exigência do Evangelho, mas fruto de nossas tradições.
Sempre que acrescentamos algo à cruz, diminuímos o poder da graça.
II – O DEBATE DOUTRINÁRIO
A cena agora se move para Jerusalém. O ar está denso. De um lado, a facção legalista, defendendo séculos de tradição sagrada. Do outro, Paulo e Barnabé, os missionários pioneiros. E então, o silêncio toma conta da sala quando Simão Pedro, o apóstolo impetuoso, se levanta para falar.
Ele não começa com uma argumentação teológica complexa. Ele começa com uma memória, uma história que todos ali conheciam bem. Ele os transporta de volta no tempo, para a casa de um centurião romano chamado Cornélio. Ele os lembra do choque, do espanto, ao verem o Espírito Santo ser derramado sobre os gentios, que creram em Jesus ali, naquele instante.
O argumento de Pedro é simples e devastadoramente lógico. Ele diz: “Deus, que conhece os corações, deu a eles o Espírito Santo, assim como o deu a nós. Ele não fez nenhuma distinção.” Em outras palavras, o próprio Deus já havia votado nessa questão. O selo de aprovação divina, o Espírito Santo, foi dado antes de qualquer ritual, antes de qualquer discussão sobre a Lei.
Então ele faz uma pergunta que ecoa com uma profunda carga emocional e racional: “Por que, então, vocês querem colocar Deus à prova, impondo sobre eles um jugo que nem nós, nem nossos pais conseguimos suportar?”. Era um momento de honestidade brutal. Pedro estava admitindo que a própria Lei, que eles reverenciavam, era um fardo pesado demais. A salvação, ele conclui, tinha que vir de outro lugar: unicamente pela graça de Jesus Cristo, tanto para judeus quanto para gentios.
O argumento de Pedro foi a primeira coluna: a coluna da experiência validada por Deus.
E quando a sala assimila o peso dessa evidência, levanta-se Tiago, o irmão do Senhor, o líder respeitado da igreja de Jerusalém. Se alguém ali representava a conexão com a tradição judaica, era ele. E ele não invalida a experiência de Pedro. Pelo contrário. Ele a confirma com a segunda e inabalável coluna: a coluna da Escritura Sagrada.
Tiago recorre aos profetas, declarando: “E com isto concordam as palavras dos profetas”. Ele mostra que a inclusão dos gentios não era um “plano B” de Deus, nem uma inovação perigosa. Era, na verdade, um plano antigo, uma promessa de que Deus reconstruiria sua casa para que “o restante da humanidade” pudesse buscá-lo.
Esse episódio nos ensina que nossas decisões precisam se basear tanto na ação do Espírito quanto na Palavra de Deus.
Nossa experiência com Deus é real e poderosa, mas ela precisa ser alinhada e confirmada pela Palavra. E a nossa leitura da Palavra não pode ser tão rígida a ponto de ignorar a forma como o Espírito Santo está agindo no mundo hoje.
A Igreja só é saudável quando caminha com os dois pés: Palavra e Espírito.
Quando a Palavra confirma e o Espírito testifica, não restam dúvidas: ali está a vontade de Deus.
III – A DECISÃO DA ASSEMBLEIA DE JERUSALÉM
Depois dos argumentos baseados na experiência e na Escritura, um consenso começa a se formar na sala. Não era o consenso de uma votação acirrada, mas a paz que vem quando a vontade de Deus se torna clara. E a decisão final, registrada na carta que eles escreveriam, começa com uma das frases mais poderosas de todo o livro de Atos: “Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós…”.
Vamos parar e sentir o peso disso. Eles não disseram: “Nós, os apóstolos, decidimos”. Eles não disseram: “Após um longo debate, chegamos a um acordo”. Eles declararam uma parceria direta com o Divino. O Espírito Santo não era para eles uma doutrina distante, mas uma pessoa presente, ativa, que participou da reunião e guiou a decisão. Eles O ouviram, sentiram Sua direção, provavelmente através da profecia dos homens que ali estavam, e se alinharam a Ele.
E qual foi essa decisão guiada pelo Espírito? Foi uma obra-prima de sabedoria, que equilibrou perfeitamente a verdade e o amor.
Primeiro, a verdade inegociável: a salvação é inteiramente pela graça, mediante a fé. Eles não impuseram o fardo da circuncisão ou da Lei de Moisés sobre os gentios. A liberdade em Cristo foi preservada. O Evangelho estava salvo.
Segundo, a sabedoria prática: eles estabeleceram quatro diretrizes essenciais, que serviam a um duplo propósito fundamental.
De um lado, elas eram uma ponte para a comunhão. Práticas como comer comida sacrificada a ídolos e a imoralidade sexual ligada a rituais pagãos eram barreiras intransponíveis para um judeu. Evitá-las era um poderoso ato de amor, permitindo que todos pudessem sentar-se à mesma mesa como uma só família, sem barreiras de consciência.
Mas, de forma ainda mais profunda, essas diretrizes eram um fundamento de santidade. A proibição da imoralidade sexual, em particular, não era uma mera concessão cultural; é um mandamento moral absoluto para todo seguidor de Cristo. Juntas, essas regras marcavam a ruptura definitiva do novo crente com seu passado pagão, estabelecendo um padrão mínimo de conduta para quem agora pertence a Deus.
Assim, a mensagem era clara: a salvação não vem por regras, mas a salvação verdadeira transforma a nossa conduta, nos chamando a viver em santidade diante de Deus e em amor para com os irmãos.
A lição para nós hoje é monumental. Como resolvemos nossos conflitos na igreja? Em nossas discussões, buscamos a voz do Espírito em oração ou apenas a vitória do nosso argumento? Sabemos diferenciar o que é a verdade essencial do Evangelho daquilo que é preferência cultural ou tradição?
A Assembleia de Jerusalém nos ensina que a liderança sábia defende a verdade sem negociá-la, mas a aplica com um coração pastoral que busca a unidade. Eles rejeitaram o legalismo, mas não rejeitaram as pessoas. E o resultado? A carta chegou a Antioquia e, lemos na Bíblia, que os irmãos se alegraram pela exortação. A crise que ameaçava dividir a Igreja, ao ser resolvida sob a direção do Espírito, acabou por fortalecê-la e uni-la ainda mais.
Na Igreja de Cristo, a verdade nos liberta para sempre, e o amor nos une em uma só família.
CONCLUSÃO
A decisão da Assembleia de Jerusalém não foi apenas o fim de uma crise. Foi o destravar de um foguete. Com a questão resolvida, o Evangelho, agora oficialmente livre das correntes do legalismo, explodiu pelo Império Romano. Paulo, Barnabé, Silas e tantos outros puderam levar adiante a mensagem pura e poderosa da salvação pela graça, e é por causa da coragem e da sabedoria daquela reunião que essa mesma mensagem chegou até você, hoje.
Ao longo deste estudo, nós viajamos juntos por um dos momentos mais decisivos da história da fé. Vimos como a expansão do Evangelho gerou um choque de mundos, ameaçando fraturar a recém-nascida Igreja. Aprendemos com Pedro e Tiago a importância de construir nossa defesa da verdade sobre as duas colunas inabaláveis: a experiência real com Deus e a rocha imutável da Escritura. E, por fim, testemunhamos como a direção do Espírito Santo produziu uma solução que defendeu a verdade teológica com uma imensa sabedoria pastoral.
Mas essa história de quase dois mil anos atrás não é uma peça de museu. É um manual de instruções e uma fonte de esperança para a Igreja em pleno século XXI. Nossas igrejas hoje enfrentam seus próprios conflitos. Seja um conflito de natureza social, como a queixa das viúvas em Atos 6, ou uma profunda crise de doutrina, como vimos aqui. Temos debates sobre liturgia, questões sobre justiça social, diferenças de interpretação, choques geracionais… Os desafios são muitos.
A pergunta que a Assembleia de Jerusalém nos faz hoje é: como nós reagimos?
Somos nós os que, mesmo com boas intenções, criamos barreiras, adicionando nossos próprios “mas” à graça de Deus? Ou somos nós os que, com humildade, buscamos a sabedoria do alto, dispostos a ouvir antes de falar? Estamos nós firmados na Palavra, abertos à experiência que o Espírito nos dá, e prontos para colocar a unidade do corpo acima das nossas preferências pessoais?
A lição final é esta: a Igreja nunca foi um lugar de pessoas perfeitas que concordam em tudo. Ela é a prova viva de que pessoas radicalmente diferentes – judeus, gregos, brasileiros, homens, mulheres, jovens, idosos – podem se tornar uma só família, unidas não por um conjunto de regras, mas pela graça redentora de um único Salvador, Jesus Cristo.
A unidade que o Espírito Santo construiu em Jerusalém não foi baseada na uniformidade, mas na adoração. E ali, como hoje, Deus é glorificado, não na ausência de problemas, mas no poder sobrenatural da Sua graça que nos reconcilia e nos une apesar deles.
E assim, chegamos ao final da nossa última lição deste trimestre. Meu desejo é que, ao longo destas 13 aulas em que estudamos juntos a Palavra de Deus, você tenha sido tão edificado quanto eu fui.
E o nosso aprendizado não para por aqui! Já deixo o convite: não perca o próximo trimestre, pois estaremos juntos novamente, crescendo no conhecimento do Senhor e buscando a sabedoria que vem do alto.

Que Deus abençoe grandemente a sua vida, em nome do nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo.
Amém!