Lição 08: Uma Igreja que enfrenta os seus problemas – 3º Trimestre 2025

Lição 08: Uma Igreja que enfrenta os seus problemas – 3º Trimestre 2025
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Na sua igreja tem conflitos culturais ou geracionais, reclamações sobre favoritismo e tensões internas que ameaçam dividir a comunidade? E se eu dissesse que a primeira igreja cristã, a mesma que crescia mesmo em meio a perseguição, enfrentou problemas tão reais quanto os nossos?
Mas em vez de fracassar, eles encontraram uma solução tão brilhante que transformou uma crise em oportunidade de crescimento.

Em Atos 6, descobrimos um modelo revolucionário para resolver conflitos que continua funcionando 2000 anos depois. Prepare-se para descobrir como uma igreja cheia do Espírito Santo enfrenta seus problemas e sai mais forte do outro lado!

INTRODUÇÃO

Queridos irmãos e irmãs, quando olhamos para a igreja primitiva, muitas vezes a idealizamos como perfeita, sem desentendimento ou dificuldades. Mas a realidade bíblica nos mostra algo diferente e profundamente reconfortante: desde o início, a igreja de Cristo enfrentou desafios reais.

Em Atos 6, encontramos uma comunidade em crescimento acelerado, enfrentando suas primeiras crises internas. Este não é apenas um relato histórico, mas um espelho para nossas igrejas hoje. Vemos ali uma lição poderosa sobre como o Espírito Santo guia o povo de Deus não para evitar problemas, mas para enfrentá-los com sabedoria divina.

O que torna esta passagem tão relevante para nós é perceber que os apóstolos não esconderam o problema sob o tapete da espiritualidade. Eles não disseram: “Vamos apenas orar mais e o problema desaparecerá”. Não! Eles reconheceram a realidade do conflito e buscaram uma solução prática, inspirada pelo Espírito.

Esta lição nos desafia a entender que uma igreja madura não é aquela sem problemas, mas aquela que sabe enfrentá-los com graça, sabedoria e organização. Como disse C.S. Lewis: “Deus sussurra em nossos prazeres, fala à nossa consciência, mas grita em nossas dores: elas são o megafone para despertar um mundo surdo.”

Os problemas na igreja não são sinais de fracasso, mas oportunidades para demonstrarmos a sabedoria de Deus em ação!

I – A IDENTIFICAÇÃO DOS CONFLITOS

Quando examinamos Atos 6, percebemos que o conflito tinha raízes profundas que vão além do que aparece na superfície. A igreja estava enfrentando uma crise que combinava elementos culturais, sociais e organizacionais.

Primeiramente, havia um conflito de natureza cultural. Lucas menciona uma “murmuração dos gregos contra os hebreus”. Não estamos falando de gentios, mas de judeus helenistas – aqueles que haviam sido criados fora da Palestina, falavam grego e adotavam certos aspectos da cultura grega. Do outro lado, estavam os judeus hebraicos, que preservavam o aramaico e as tradições mais conservadoras de Jerusalém.

Imagine o desafio: pessoas com diferentes idiomas, costumes e perspectivas tentando formar uma única comunidade de fé! As diferenças culturais que hoje dividem nossas igrejas – música, vestimenta, estilos de culto – não são novidades. A igreja primitiva já enfrentava esse desafio! E o mais impressionante: eles não permitiram que essas diferenças destruíssem a unidade essencial em Cristo.

Além disso, havia um conflito de natureza social. As viúvas dos judeus helenistas estavam sendo “desprezadas no ministério cotidiano”. Na cultura daquela época, as viúvas representavam um dos grupos mais vulneráveis da sociedade. Sem marido e frequentemente sem filhos para sustentá-las, dependiam completamente da caridade comunitária. O que vemos aqui não é apenas um problema administrativo, mas uma questão de justiça social dentro da comunidade de fé.

O que torna este relato ainda mais relevante para nós hoje é perceber que a igreja primitiva não separava o espiritual do social. Os apóstolos não disseram: “Nós cuidamos das almas, vocês cuidem dos corpos”. Eles entenderam que o evangelho abrange a pessoa inteira e que a negligência social é uma falha espiritual.

Quando olhamos para nossas igrejas hoje, quantas vezes priorizamos programas espetaculares enquanto ignoramos as necessidades básicas em nossa comunidade? Quantas vezes nos dividimos por questões culturais secundárias enquanto pessoas sofrem em silêncio? Vemos igrejas investindo milhões em sistemas de som e iluminação, enquanto famílias em seu entorno passam fome. Observamos congregações que se dividem por preferências musicais ou detalhes litúrgicos, mas não se mobilizam quando membros perdem empregos ou enfrentam crises de saúde mental. Há comunidades que debatem fervorosamente sobre escatologia, mas ignoram os idosos solitários em seu meio. Algumas igrejas gastam fortunas em conferências e eventos, mas não têm um fundo de assistência para emergências de seus próprios membros.

O que eu quero trazer com estas palavras não é acusar ou apontar o dedo, mas sim que cada um se examine a si mesmo, e que vejamos se, como igreja, estamos agindo de acordo com aquilo para o que fomos chamados.

Jesus nunca separou o espiritual do físico em seu ministério. Quando alimentou os cinco mil (João 6), não estava apenas realizando um milagre espetacular – estava respondendo a uma necessidade física real: a fome. Quando curou o paralítico (Marcos 2), perdoou seus pecados E restaurou sua mobilidade física. Ao encontrar a mulher samaritana (João 4), ofereceu-lhe água viva espiritual, mas a conversa começou com uma necessidade básica: água do poço. Em Lucas 10, na parábola do Bom Samaritano, Jesus deixa claro que o amor ao próximo se manifesta em ações práticas de cuidado físico – óleo, vinho, hospedagem e dinheiro para o ferido. E em Mateus 25, Cristo é enfático: alimentar o faminto, vestir o nu, visitar o enfermo e o preso são atos feitos ao próprio Jesus.

A igreja que ignora os conflitos internos está construindo sobre areia movediça. Mas a igreja que os enfrenta com sabedoria divina está edificando sobre a rocha!

II – A DELEGAÇÃO DE TAREFAS

Quando a igreja primitiva enfrentou seu primeiro grande desafio organizacional, os apóstolos demonstraram uma sabedoria extraordinária que continua sendo um modelo para nós hoje. Eles não apenas identificaram o problema, mas implementaram uma solução que honrava tanto as necessidades espirituais quanto as sociais da comunidade.

O texto nos revela uma verdade profunda: a delegação de tarefas na igreja não é apenas uma estratégia administrativa, mas um princípio espiritual fundamental. Os apóstolos declararam: “Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas” (Atos 6:2). Esta não era uma declaração de superioridade, mas de prioridade e foco ministerial.

Observe que os apóstolos não disseram que servir às mesas era menos importante. Na verdade, eles chamaram isso de “importante negócio” (v.3). O que eles reconheceram foi que diferentes pessoas na igreja têm diferentes chamados e dons, e que a eficácia do corpo de Cristo depende de cada membro funcionando em sua área de vocação.

Esta passagem desafia diretamente a mentalidade hierárquica que muitas vezes permeia nossas igrejas hoje. Quantas congregações sofrem porque pastores tentam fazer tudo sozinhos, desde pregar até trocar lâmpadas? Quantos ministros estão esgotados porque não aprenderam a arte da delegação? E quantos membros talentosos permanecem subutilizados porque a liderança não cria espaço para que exerçam seus dons?

O ministério da oração e da Palavra não está em conflito com o ministério do serviço prático. Jesus mesmo demonstrou isso quando lavou os pés dos discípulos (João 13) – o Mestre se fez servo. Paulo reforçou este princípio quando escreveu sobre os diversos dons no corpo de Cristo (1 Coríntios 12), enfatizando que não há dom inferior ou superior, apenas funções diferentes para um propósito comum.

A diaconia estabelecida em Atos 6 não era um ministério de “segunda classe”. Pelo contrário, exigia qualificações espirituais extraordinárias: “homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria”. Estêvão, o primeiro mencionado entre os escolhidos, era “homem cheio de fé e do Espírito Santo” e logo se tornaria o primeiro mártir cristão, demonstrando eloquência e coragem notáveis. Filipe, outro dos sete, se tornaria um evangelista poderoso, levando o evangelho à Samaria e ao eunuco etíope.

Hoje, muitas igrejas sofrem de desequilíbrio ministerial. Algumas se tornam centros de estudos bíblicos profundos, mas negligenciam as necessidades práticas da comunidade. Outras se transformam em organizações de serviço social, mas perdem a profundidade da Palavra e da oração. O modelo bíblico nos chama ao equilíbrio – uma igreja que ora fervorosamente, prega poderosamente e serve com compaixão!

Pense em sua própria congregação: estamos honrando tanto o ministério da Palavra quanto o ministério do serviço? Estamos permitindo que pessoas usem seus dons específicos ou forçando todos a se encaixarem no mesmo molde? Estamos valorizando igualmente aqueles que pregam e aqueles que servem nas tarefas práticas?

A igreja que delega com sabedoria multiplica seu impacto, pois libera cada membro para servir na plenitude de seus dons!

III – SEGUINDO OS PRINCÍPIOS CRISTÃOS

Quando examinamos os critérios estabelecidos pelos apóstolos para a escolha dos sete homens em Atos 6, descobrimos um padrão revolucionário que desafia profundamente nossa cultura contemporânea. Em um mundo onde valorizamos habilidades técnicas, eloquência e carisma, a igreja primitiva priorizou algo completamente diferente: o caráter espiritual.

Os apóstolos não pediram currículos impressionantes ou experiência prévia em administração. Não exigiram diplomas ou conexões familiares importantes. Em vez disso, buscaram “homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria” (Atos 6:3). Esta tríade de qualificações – reputação, plenitude espiritual e sabedoria – estabelece um padrão atemporal para liderança cristã que permanece tão relevante hoje quanto era no primeiro século.

A expressão “boa reputação” traduz o termo grego martyreo, de onde vem nossa palavra “mártir”. Isso sugere pessoas cujas vidas são um testemunho vivo, que estão dispostas a sacrificar seus próprios interesses pelo bem maior. Não são apenas pessoas que parecem boas aos domingos, mas que vivem com integridade todos os dias da semana. São pessoas cuja vida pública e privada estão alinhadas, sem contradições gritantes entre o que professam e como vivem.

Em nossas igrejas hoje, frequentemente comprometemos este princípio. Quantas vezes promovemos pessoas a posições de liderança baseados em sua prosperidade financeira, status social ou habilidades técnicas, ignorando sérias falhas de caráter? Quantas vezes toleramos comportamentos questionáveis em líderes talentosos porque “precisamos deles”? A igreja primitiva nos ensina que o caráter não é negociável – é o fundamento sobre o qual todo serviço cristão deve ser construído.

Além do caráter, os apóstolos buscavam pessoas “cheias do Espírito Santo”. Esta não era uma qualificação mística vaga, mas uma realidade prática demonstrada por uma vida transformada. Pessoas cheias do Espírito manifestam o fruto do Espírito – amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gálatas 5:22-23). São pessoas que vivem em comunhão constante com Deus, sensíveis à Sua direção e dependentes de Seu poder.

É notável que esta qualificação espiritual fosse exigida mesmo para tarefas aparentemente “práticas” como a distribuição de alimentos. Isso nos ensina que não existe divisão entre tarefas “espirituais” e “seculares” no reino de Deus. Tudo o que fazemos em nome de Cristo requer Sua unção e direção.

O terceiro requisito era a sabedoria – não apenas conhecimento teológico ou inteligência natural, mas a capacidade de aplicar a verdade divina às situações complexas da vida. A sabedoria bíblica combina discernimento, bom senso e sensibilidade espiritual. É a habilidade de ver as situações como Deus as vê e responder de acordo com Seus princípios.

O resultado desta seleção cuidadosa foi extraordinário: “E crescia a palavra de Deus, e em Jerusalém se multiplicava muito o número dos discípulos, e grande parte dos sacerdotes obedecia à fé” (Atos 6:7). Quando a igreja segue os princípios divinos na escolha de seus líderes e na organização de seu trabalho, o resultado é crescimento saudável e impacto transformador.

Hoje, precisamos redescobrir estes princípios atemporais. Em uma era de celebridades cristãs e ministérios construídos em torno de personalidades carismáticas, somos chamados a valorizar o caráter acima das habilidades, a plenitude espiritual acima da performance, e a sabedoria divina acima da astúcia humana.

A igreja que honra o caráter acima das competências constrói sobre uma fundação que resistirá às tempestades do tempo!

CONCLUSÃO

Queridos irmãos e irmãs, ao concluirmos nossa reflexão sobre Atos 6, somos confrontados com uma verdade transformadora: a igreja de Jesus Cristo é chamada a ser completa em sua missão, equilibrada em seu ministério e íntegra em seu caráter.

A igreja primitiva nos ensina que os problemas não devem ser ignorados, mas enfrentados com sabedoria divina. Quando os apóstolos perceberam o conflito entre os helenistas e os hebreus, eles não minimizaram a situação nem a espiritualizaram excessivamente. Eles reconheceram a realidade do problema e buscaram uma solução prática guiada pelo Espírito Santo.

Esta passagem derruba o falso muro que muitas vezes construímos entre o “espiritual” e o “social”. Jesus nunca separou estes aspectos em Seu ministério – Ele alimentou os famintos, curou os enfermos e pregou o Reino. Da mesma forma, a igreja autêntica deve ministrar ao ser humano integral – corpo, alma e espírito.

A delegação de tarefas que vemos em Atos 6 não era uma questão de hierarquia, mas de eficácia ministerial. Cada crente tem um papel vital no corpo de Cristo. Quando cada um serve segundo seus dons, a igreja funciona como um organismo saudável, e o resultado é crescimento e multiplicação.

Que possamos aplicar estes princípios em nossas igrejas hoje! Que sejamos comunidades que enfrentam seus problemas com coragem, que servem com compaixão, que valorizam o caráter acima das aparências, e que permitem que cada membro exerça seus dons para a glória de Deus.

Como nos diz o versículo 7: “E crescia a palavra de Deus, e em Jerusalém se multiplicava muito o número dos discípulos.” Este é o resultado natural quando a igreja enfrenta seus desafios segundo os princípios divinos – crescimento genuíno e impacto transformador.

Uma igreja que resolve seus problemas com sabedoria divina torna-se um testemunho vivo do poder transformador do evangelho!

Amém!

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Ozeias Silva

Amo Deus acima de tudo e estou apaixonado por compartilhar Sua Palavra e pregar a Verdade. Como professor na EBD, presbítero e líder dos jovens na Assembleia de Deus Min Belém, em Araraquara, estou comprometido em ajudar os outros a crescerem em sua fé.